Onda de justiceiros preocupa; pelo menos oito pessoas morreram no RN

José, Valter, Salatiel, Arlindo, Alsair, outros três não identificados. Pelo menos oito pessoas morreram, neste ano, no Rio Grande do Norte, vítimas de cidadãos comuns que resolveram fazer justiça com as próprias mãos. Os dados são de levantamento feito por representantes do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e do Conselho Estadual de Direitos Humanos e Cidadania (COEDHUCI-RN). O último ato de linchamento, em que o suspeito de um crime foi espancado e morto por populares, ocorreu no final de semana passado, em Natal. Raramente os agressores são presos.

A Polícia Civil encontra dificuldades em investigar os casos, principalmente pela falta ou  silêncio das testemunhas. Especialistas são unânimes e apontam a ausência do Estado como principal causa dessa prática. A maioria das pessoas que passaram da condição de suspeitos a vítimas são homens, pardos ou negros, com idade média de 34 anos. Entre as ocorrências registradas, apenas uma mulher foi vítima de  assassinato com características de justiçamento.

“Temos que ressaltar que existe o justiçamento coletivo, em que várias pessoas espancam o suspeito até a morte e outros que é um contra um. Às vezes a população não bate, mas assiste, apóia, não revela quem foi o suspeito, e dessa forma também está cometendo um crime”, explica o especialista em Segurança Pública, Ivenio Hermes, que é consultor da OAB/Mossoró e faz parte do Fórum Brasileiro de Segurança. De acordo com o banco de dados atualizado por ele, junto com Marcos Dionício, presidente do Conselho Estadual de Direitos Humanos, foram cinco justiçamentos coletivos no RN, contra três ocorridos da outra forma.  Eles chegam aos casos a partir de notícias divulgadas pela, imprensa, além de conversa com policiais, familiares e população em geral.

O primeiro registro de 2014 ocorreu em fevereiro, no município de Mossoró. A vítima de linchamento não foi identificada até hoje e também não pôde ser sepultada porque o Itep de Mossoró não teria condição de recolher material genético para futuros exames de DNA – ação necessária para o sepultamento de indigentes.

Para o consultor Ivenio Hermes, os casos são reflexo de uma sociedade sem a presença do Estado no combate aos crimes. “A violência é algo humano. A nossa tendência é sermos violentos, mas somos contidos pelas leis, pelas normas sociais, e acabamos nos tornando pacíficos, buscando a paz. Mas o que está faltando é a presença do Estado, que gera impunidade. O cidadão vê os crimes acontecendo ao seu redor sem solução e isso gera medo, ódio. Quando ele tem a oportunidade, desconta tudo isso naquele suspeito que foi pego”, argumenta.

Para ele, isso acontece devido à falta de policiamento ostensivo e principalmente investigação. “Passa desde a valorização do policial, até os equipamentos e as condições adequadas de trabalho”, comenta. Como exemplo da situação pela qual passa o estado, ele afirma que a Polícia Militar não tem reforço de efetivo há cinco anos. As nomeações que ocorrem, segundo ele, são para substituição, de mortos, exonerados ou aposentados.

Além dos casos envolvendo mortes, há vários outras histórias de linchamentos, neste ano. Em um deles, um pedreiro, em Parnamirim, foi espancado porque vestia uma camisa azul – mesma cor usada pelo homem que havia praticado um crime. Ele foi preso por seguranças de uma empresa particular e sofreu várias pancadas na cabeça. De acordo com Ivenio, o homem ainda carrega sequelas. Perdeu parte da memória e só sabe o primeiro nome. Já Wancleir Barbosa Bezerra, 23, foi espancado na zona Norte de Natal, no dia 21 de fevereiro, após tentar roubar uma farmácia. Preso, depois de ter sido amarrado e espancado, ele contou à TN que estava arrependido e não sabia o que faria, caso fosse ele a vítima de um assalto.

Cronologia

01/02 – O primeiro caso aconteceu na noite do sábado dia 1º de fevereiro. Um homem até hoje não identificado foi espancado por moradores no bairro Abolição III, em Mossoró,  após assaltar uma mulher e tentar fugir de bicicleta. Ele foi espancado e chegou a ser socorrido para o Hospital Tarcísio Maia, mas não teria resistido.

17/02 – Mulher até hoje não identificada foi morta a tiros em Parnamirim. De acordo com os pesquisadores, ela era moradora de rua e algumas pessoas suspeitavam de pequenos furtos que seriam praticados por ela na região.

05/03 – Valter de Oliveira Lima, 31 anos, conhecido como “Garapa”, teve a cabeça esmagada a pedradas, em Touros, no litoral norte potiguar, no dia 5 de março. Ele era suspeito de pequenos crimes na cidade e acredita-se que tenha sido tirado de dentro de casa e executado. A polícia prendeu um suspeito do crime, de 19 anos.

17/03 – Salatiel Félix da Silva, 52 anos, foi morto por espancamento  no bairro Santa Tereza, em Parnamirim. Não há detalhes sobre o caso.

22/03 – Um homem identificado como José César do Nascimento, de 36 anos, morreu após ser agredido fisicamente por outras pessoas em Goianinha. Ele chegou a ser socorrido a um hospital, mas não resistiu à gravidade dos ferimentos.

29/03 – Arlindo Pereira da Costa, 30 anos, foi morto a pauladas dentro de um ginásio em construção em Alexandria, no Alto Oeste potiguar. Duas pessoas foram presas à época.

29/03 – Alsair da Silva Luiz, negro, 34 anos, foi morto em Felipe Camarão, Natal. Não há informações sobre o caso.

26/04 – um homem ainda não identificado foi espancado até a morte no bairro Nordeste, em Natal, na noite de sábado (26). Ele teria roubado o celular de uma mulher em uma parada de ônibus. Perseguido por populares, ele chegou a correr, mas se enganchou em uma cerca, onde foi executado. A polícia não tem pistas dos agressores.

Tribuna do Norte

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