Agentes governamentais teriam favorecido ação do PCC durante massacre em Alcaçuz


A crise penitenciária que está instalada no Rio Grande do Norte desde o último dia 14, quando a maior rebelião já registrada no estado tomou proporções assustadoras, segue rendendo muitas acusações entre as duas facções criminosas que comandam o crime em solo potiguar: Primeiro Comando da Capital (PCC) e Sindicato do RN. O Agora Jornal traz em sua primeira edição uma entrevista exclusiva com José Alexandre (nome fictício), detento de um dos pavilhões da Penitenciária Estadual de Alcaçuz e membro do Sindicato, organização que teve 26 homens mortos durante a grande rebelião daquele fim de semana.

Segundo José, a transferência de cerca de 220 detentos pertencentes ao Sindicato, realizada na quarta-feira (18), não foi bem digerida pela facção. Ele garante que houve negociação entre Governo do Estado e PCC para que o Sindicato, que domina 28 das 32 penitenciárias do RN, ficasse enfraquecido em Alcaçuz e consequentemente perdesse o domínio da maior unidade do estado. Um dia depois da ação, a rebelião foi reiniciada e novos presos foram assassinados, além dos que já haviam divulgados até então pelo Governo.

O reflexo da medida de transferência também chegou nas ruas. Para tentar chamar atenção das autoridades, o sindicato iniciou ataques contra ônibus, viaturas e prédios públicos, aterrorizando boa parte da população. A ideia, porém, não era trazer transtornos ao povo, e sim “tentar fazer com o que governo os ouvisse”. Segundo o membro da facção, o estado fez negócio com o PCC para desarticular o Sindicato e matar todos os seus componentes. Agentes penitenciários e diretores das unidades Rogério Coutinho Madruga e Alcaçuz foram citados.

Com tudo começou?
O ataque já estava sendo preparado por eles desde que aconteceu aquela situação em Manaus, quando o Comando Vermelho, que é nosso aliado, atacou o PCC. Estávamos prevendo uma possível retaliação, só não esperávamos que fosse acontecer de uma forma tão covarde. Era um dia de visitas e quando várias mães, mulheres e filhos estavam saindo da unidade começaram a ouvir barulhos de tiros e bombas em direção ao pavilhão 4. O PCC invadiu o pavilhão jogando bombas de efeito moral e gás de pimenta que pertenciam aos agentes penitenciários. Eles atacaram nossos irmãos com muitas armas de fogo, era impossível a gente revidar porque houve uma facilitação dos agentes antes de tudo.

Qual foi a principal motivação do ataque?
Foi a situação lá de Manaus. Era uma retaliação deles com tudo o que aconteceu por lá. Diversos integrantes do 15-3-3 (PCC) foram mortos pela facção que é nossa aliada, então eles revidaram por aqui.

Como foi o confronto? Estavam todos equipados com armas?
Eles começaram a nos atacar depois da visita. Jogaram muitas bombas na quadra do pavilhão 4 e isso sufocou vários dos nossos integrantes. Todos tinham armas de fogo, nós também tínhamos e buscamos nos defender. Atacaram de pistola, revólver e até mesmo com armas calibre 12.

Por que surgiu a decisão do Sindicato em levar os ataques para as ruas?
Esses ataques começaram depois que sofremos um verdadeiro golpe do Governo do Estado. Digo com toda a certeza do mundo que o PCC tem negócio com o Governo, principalmente com os representantes do Rogério Coutinho Magruda (Rubian do Nascimento Rocha) e de Alcaçuz (Ivo Freire). Nós apenas buscamos nos defender do golpe que sofremos quando o Estado transferiu 220 homens do Sindicato para o PEP no meio da guerra que estávamos vivendo, tentando nos desarticular e nos deixar em menor número dentro do presídio. Pela lógica, a transferência deveria atingir o lado oposto, já que a confusão toda partiu do PCC. Enxergamos essa decisão do governo como uma covardia diante do que vinha acontecendo aqui dentro e por isso decidimos começar os ataques nas ruas numa tentativa de fazer com o que o Estado nos ouvisse.

Ainda tem chance de haver confronto por aí?
Chance sempre terá enquanto não tirarem o PCC daqui de dentro. Essa ideia de construir um muro com contêineres para dividir as duas facções é querer tapar o sol com a peneira.

Como está o clima em Alcaçuz nos últimos dias?
De ontem (sexta, 20) para hoje (sábado, 21) a situação está tranquila, não tiveram mais confrontos. O Sindicato sempre frisou que não queria guerra, mas também não fugimos dela. Estamos aqui para vencer e vingar a morte de todos os nossos irmãos que foram covardemente assassinados no pavilhão 4.

Qual a intenção do Sindicato hoje?
Nossa intenção, como sempre frisamos no nosso estatuto de batismo, é nos mantermos em paz. Mas como falei, nós não fugimos da guerra. Como eles não quiseram o confronto acabou acontecendo essa rebelião.

O que o Sindicato pensa em fazer de agora em diante?
A atitude que nós tomaremos é a de extinguir o PCC do Rio Grande do Norte. Eles são liderados por estupradores e caguetas, não tem ética nenhuma dentro do crime. O PCC é uma facção que já está manchada em todo território nacional, todas as outras facções que fecham com a gente (Comando Vermelho, Primeiro Grupo Catarinense, Al-Qaeda, Família do Norte e Guardiões do Estado) tem esse pensamento.

O número de mortos da rebelião do dia 14 é maior do que o que foi anunciado?
Possivelmente sim, ainda tem muitos corpos espalhados por aqui nos pavilhões. Também tiveram mortes na confusão de quinta-feira (dia 19, um dia depois da transferência dos 220 integrantes da facção para o PEP).

De fato houve negociação do Governo do Estado com o PCC?
Sim, o governo negociou, assim como toda a direção da unidade que foi corrompida pelo dinheiro. Os próprios guariteiros jogavam sacos pretos com armas, drogas e munições em direção ao pavilhão do PCC. Visualizamos diversas vezes a direção do presídio jogando o telefone para os líderes do PCC. Eles subiam nas guaritas e jogavam o aparelho, ficavam conversando normalmente, coisa que nenhum fazia com a gente. Do nosso lado não tinha diálogo, era só bomba sendo arremessada e orientação para os guariteiros atirarem contra nós.

O que o Sindicato tem a dizer neste momento?
Nós sofremos um grande golpe por parte do Estado e de uma facção sem respeito algum no mundo do crime. É bom frisar mais uma vez que fomos atacados num dia de visita, um dia que é considerado o mais sagrado dentro do sistema carcerário. A intenção de ambos era nos exterminar, acabar com todos nós, mas Deus está do nosso lado, ele sabe que somos do crime, mas fazemos o crime justo e verdadeiro, não aceitamos falhas dentro do sistema e nem somos covardes. Estamos aqui para organizar a penitenciária desde 2013.

Para a sociedade, eu digo que podem ficar tranquilos porque nossa briga não é com os inocentes. Não queremos confusão com o povo e por isso já ordenamos para o ‘salve’ nas ruas ser paralisado. Só quero dizer que onde tiver PCC no Rio Grande do Norte nós vamos matar, onde tiver PCC na cadeia nós vamos matar. Só vamos nos cansar até arrancar a última cabeça dessa raça miserável.

agoraRN

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