PRECONCEITO
Era tarde, e o Sol já dizia um breve adeus. Numa loja lotada, pessoas misturavam-se atraídas por preços, modelos e marcas. Coisas do capitalismo.
Até que gritos surgem de um lado da loja. Algo como: FOI VOCÊ QUEM PEGOU!
As acusações partiam de um lado, o lado sombrio, mas muito bem arrumado, cabelos lisos, maquiagem no rosto, uma postura de dar inveja. O outro lado era simples, era dócil, era negro.
Uma menina de cabelos encaracolados estava sendo acusada por roubo. Minutos antes uma bela bolsa foi ao chão, ela abaixou-se, juntou as coisas e entregou a dona. E foi acusada.
Acusada, apontada, humilhada. O celular não estava ali. Ou a dona achava que não estava. Mais fácil do que procurar foi acusar e ainda utilizar a mistura mais ridícula de palavras: FOI VOCÊ, ESTÁ NA CARA!
Aí eu pergunto: Está na cara ou na cor da pele? O que a fez pensar que uma pessoa mais escura, a mesma que a ajudou, seria capaz de tirar-lhe algo por causa da cor?
Na maior delicadeza de criatura educada, a menina escura retirou-se, de coração partido, com o peito aberto de ferimentos que quase nunca saram. Saiu. A humilhação é algo cortante para o ser humano. Deixou barato. Não devia. Mas deixou mais um monstro montado à solta.
Não quis justiça, só quis sair dali. Vários olhos te encaravam, mas não sabia ela que os olhos não a recriminavam. Eles uniram-se aos lábios e vaiaram aquela que a apontou. E a humilhação mudou de rumo. A monstra de salto alto saiu atordoada, vaiada e pequena. Bem pequena. Pois a inferioridade só existe para aqueles que não saber enxergar o mundo com outros olhos. Os que não sabem aceitar as diferenças. A esses, um sentimento: Pena. Que pena!
E antes que me esqueça: Cresçam!