RN tem mais de 200 mil pessoas que desistiram de procurar emprego

Atílio é um desânimo só e faz tempo. Desde que os empregos na construção civil começaram a desaparecer, em 2014, ele vive de pequenos bicos que não se sustentam por muito tempo. São alguns dias de trabalho e outros sem.

Carteira assinada faz seis anos que ele não tem. A mulher é diarista e consegue tirar mais do que ele. “Sem problema, menos mal, são três meninos em casa”, diz para se consolar. Há dois anos, ele tomou uma decisão: emprego de carteira ele não procura mais. “Tô de saco cheio de ouvir não”, proclama.

Atílio não é o único. Quer conhecer outro rapidinho é só sair pela rua. Eles estão em qualquer lugar, a qualquer hora. Fazem parte da mega taxa de desalentados divulgada na Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio do IBGE (PNAD), realizada no trimestre de julho a setembro último.

No Rio Grande do Norte, estado que vive o quinto mês consecutivo de alta nos postos formais de trabalho, só o volume de desalentados, não desalentados e indisponíveis alcançou nesse mesmo trimestre meteóricos 342 mil trabalhadores. Desses, 207 mil são exatamente como Atílio, desalentados. Não acreditam mais que voltarão mais ao mercado de trabalho.

Para o economista Ricardo Valério, presidente do Conselho Regional de Economia do RN, essa é uma situação que tende a se agravar com o fim do auxílio emergencial do governo federal e de resolução complicada na medida em que atinge os trabalhadores sem qualificação.

“A pandemia apenas agravou um problema antigo para o qual a cartilha liberal na economia não tem resposta”, afirma Valério. Normalmente, diz ele, o crescimento do emprego que começamos a experimentar no Brasil, de uns meses para cá, como resultado da reação econômica ao relaxamento do isolamento social, não seguiu paralelo com a desaceleração do desemprego como deveria ser.

“Enquanto os empregos formais cresceram, a desocupação também, o que não é típico de acontecer e só ocorre quando a economia perde dinâmica e precisa de investimentos maciços”, afirma Valério.

O problema, segundo ele, é que setor que poderiam estar puxando a ocupação das camadas menos qualificadas da população, como a construção civil, está demorando a reagir no Rio Grande do Norte.

“Sem investimentos públicos em obras estruturantes, reformas administrativas e fiscais e um forte programa social de distribuição de renda, agregando cinco milhões de brasileiros aos atuais 13 milhões do Bolsa Família, teremos grandes incertezas pela frente”, prevê o economista.

Ricardo Valério, no entanto, vê algumas luzes no final desse túnel, como a expectativa de uma ou mais vacinas, a volta gradativa do turismo e o crescimento da fruticultura, especialmente com a abertura de um corredor de exportação para Ásia, se o Governo Federal não turvar esse caminho insistindo na guerra ideológica contra o maior parceiro comercial do Brasil.

Nessas condições de temperatura e pressão, o economista não se esquece que, de outro lado, o crédito deve ser facilitado no país, onde a burocracia ao acesso de dinheiro ainda atrapalha os micro, pequenos e médios empresários.

Para Valério, o programa de obras públicas que tanto antagonizam setores do governo federal, contrapondo o Ministério da Economia de Paulo Guedes ao do Desenvolvimento Regional de Rogério Marinho, deve priorizar a construção civil e pesada em primeiríssimo lugar.

“É onde poderemos começar a gerar a solução para milhões de trabalhadores de baixa qualificação e que precisam dessa condição para lutar em terreno de menos desigualdade, num momento onde a inteligência virtual agravou a separação entre os trabalhadores e promete exterminar centenas de empregos tradicionais”, lembrou.

Hoje, além das 238 mil pessoas em busca de trabalho, a taxa total de desocupados no RN, segundo o IBGE, foi a maior no estado desde o primeiro trimestre de 2017, quando registrou 16,3%. No mesmo período do ano anterior ela foi de 13,4%.

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