Áudios e vídeos comprovam fraudes em hodômetros de veículos

Operação Vitruvius, deflagrada na terça-feira (26), teve apoio da Polícia Militar e cumpriu 50 mandados de busca e apreensão

Seis mandados de prisão preventiva e outros 50 de busca e apreensão foram cumpridos nos municípios de Natal, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante e ainda em João Pessoa, capital da Paraíba. A operação Vitruvius apura crimes contra as relações de consumo, associação criminosa e estelionato. Foram presos preventivamente os supostos adulteradores Tiago Conceição Cachina, Gileno Cachina, Antônio Eric Carvalho de Souza, João Otávio Macedo da Silva, Alcivan Eufrásio da Silva e Lucas Oliveira de Farias.

O promotor de justiça Leonardo Cartaxo explicou que interceptações telefônicas foram feitas durante 45 dias. Nesse período, o promotor explicou que os investigadores encontraram um conteúdo de “muita gravidade”. “São absurdas as ligações que esses adulteradores tinham com esse pessoal de lojas de carros usados e particulares. Foi revoltante a situação que a gente pôde constatar nos áudios”, disse o promotor. A investigação teve início em agosto de 2017, logo após  duas denúncias ao MPRN, de pessoas que tiveram os hodômetros dos carros adulterados.

O esquema funcionava com dois adulteradores autônomos e uma loja que trabalha com eletrônicos, mas segundo o MPRN, era popularmente conhecida por fazer adulterações.

Pelo o que foi apurado pelo Ministério Público, Tiago Cachina pode ser considerado o maior adulterador de hodômetros do ramo de automóveis usados em Natal, além de possuir “clientes” em outras cidades do Rio Grande do Norte, sendo habitualmente contratado para adulterações por diversas revendas de veículos usados de Natal. De acordo com Leonardo Cartaxo, foi pedido o sequestro de um apartamento de Tiago Cachina, avaliado em R$ 210 mil. Comprado à vista, a suspeita do MPRN é de que o imóvel tenha sido adquirido com dinheiro de ações criminosas praticadas pelo homem.

Leonardo Cartaxo disse que as interceptações telefônicas revelaram a ‘gravidade do esquema’

Os áudios interceptados demonstram que ele realiza a atividade criminosa diariamente, durante o dia todo, tendo sido possível detectar ao menos 153 carros que teriam sido adulterados por ele em um período de 45 dias. Além dos áudios captados com autorização judicial, vídeos produzidos por agentes do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), órgão do MPRN, mostram Tiago Cachina transitando inúmeras vezes nas lojas investigadas carregando o scanner automotivo que usa para realização das fraudes em veículos. Por cada “serviço”, ele cobra entre R$ 50 e R$ 250.

Além das adulterações em hodômetros, também foram constatadas outras manipulações nos veículos, como a eliminação de alertas de segurança e de panes em sistemas diversos, como problemas nos airbags e freios. Para o MPRN, essas adulterações colocam em risco a saúde e a segurança dos motoristas. “Uma das formas era causar um curto circuito e queimar a lâmpada do painel. O consumidor jamais sabia que um veículo estava com problema”, frisou Leonardo Cartaxo.

Os envolvidos na operação, se julgados, vão responder por crimes de consumo e associação criminosa. Se condenados, podem pegar de 2 a 5 anos. Os crimes são julgados separadamente, ou seja, eles podem responder criminalmente por cada adulteração praticada. Nesse caso, as penas podem ser multiplicadas. As investigações vão continuar a partir dos materiais apreendidos nas buscas e apreensões.

O  promotor de justiça Leonardo Cartaxo orienta as pessoas, que desconfiarem que foram vítimas de adulterações, a procurar as concessionárias dos veículos para que o carro seja submetido a um scanner. A população pode fazer denúncias de crimes em geral com ligação gratuita para o número 127 do MPRN. A identidade do informante será preservada.

As adulterações
As adulterações nos hodômetros ocorre com o acesso ao sistema digital por meio de um computador. No entanto, a fraude pode ser revelada em revisões realizadas nos veículos a partir da diferença dada pela central de gerenciamento eletrônico do motor, que registra a quilometragem real. Antigamente – antes da digitalização dos painéis- o crime era realizado com o desmonte do dispositivo, que tornava possível retroceder manualmente os algarismos do equipamento.

As interceptações

w 11 de outubro de 2017
Uma interceptação telefônica captada flagra a negociação entre Tiago Conceição Cachina e um homem até este momento não identificado.

Veja a transcrição do áudio:

HNI: Tiago!
TIAGO CACHINA: Oi!
HNI: Deixa o Honda City com 78, 77…
TIAGO CACHINA: 78, 77, né?
HNI: É.
TIAGO CACHINA: Valeu!
HNI: 78! Aí quanto é que eu lhe devo os dois carros?
TIAGO CACHINA: O Honda eu tinha feito 80, né? Essa daí… a outra normal eu faço R$ 100 pra você.
HNI: 180, no caso, os dois?!
TIAGO CACHINA: Oi?
HNI: No caso, os dois sai 180?
TIAGO CACHINA: Não, essa daí… a outra eu faço R$ 100, “macho”, pra tu, a outra.
HNI: Então, 100 com 80, 180 né?
TIAGO CACHINA: A outra Hilux eu fiz pra você R$ 100. Essa aí é diferente, pô, o programa. É mais nova.
HNI: E é?
TIAGO CACHINA: É, pô, é diferente.
HNI: Mas “homi”, me ajude. Aí fica quanto essa?
TIAGO CACHINA: Eu vou fazer essa daí pra tu 150, pô, mas eu cobro mais caro aí “dos cara”, eu cobro na faixa de 200 “conto” pra fazer.
HNI: E é?
TIAGO CACHINA: É, as outras eu faço R$ 100, “pô” (…)
HNI: Então fica 230, né?
TIAGO CACHINA: É.
HNI: Aí, faça lá o City, eu vou almoçar e depois do almoço eu pago os dois a você!
TIAGO CACHINA: Tá bom!
HNI: Valeu!

9 de abril de 2017
Um vídeo feito por agentes do Gaeco mostra Tiago Cachina retirando o painel de um Suzuki Gran Vitara ao lado de uma revendedora de veículos no bairro de Neópolis, zona Sul de Natal. Ele entra no veículo, retira o painel, vai até o carro dele e, 15 minutos depois, volta com o equipamento com o hodômetro para reinstalá-lo. Toda a ação é acompanhada pelo proprietário do Vitara.

28 de novembro de 2017
Em outro áudio captado com autorização judicial, Tiago Cachina confirma que, além de adulterar hodômetros, elimina alertas de segurança de veículos, como problemas nos airbags e freios. A conversa interceptada foi entre Tiago e o proprietário de uma revendedora de veículos usados

Veja a transcrição do áudio:

TIAGO CACHINA: Mas diga lá… é o que?
EMPRESÁRIO: Era pra… do Honda City, tá em 127, pra deixar 82.
TIAGO CACHINA: Que ano é esse carro?
EMPRESÁRIO: 2011.
TIAGO CACHINA: City, né?. 2011… tem que tirar fora aí.
EMPRESÁRIO: É?
TIAGO CACHINA: É. Faz no lugar não. Tem que tirar essa parte onde fica o meio, essa parte do som tem que tirar também.
EMPRESÁRIO: E é rapaz?
TIAGO CACHINA: É. Tem que puxar. Ele vem todinho pra frente e tira o painel fora.
EMPRESÁRIO: Sei.
TIAGO CACHINA: Demora um pouquinho.
EMPRESÁRIO: Tiago, quanto é que sai a luz do…?
TIAGO CACHINA: R$ 90. Tem que desmontar ele aí, todo o trabalho que dá.
EMPRESÁRIO: Certo, mas aí tá a luz do… parece que do airbag. Ou é do airbag e do ABS acesa, sabe?
TIAGO CACHINA: Airbag e ABS aceso?
EMPRESÁRIO: É.
TIAGO CACHINA: Aí é outro detalhe…
EMPRESÁRIO: Hum rum. Tem como apagar não?
TIAGO CACHINA: Pra apagar eu posso tentar apagar definitivo, né?
EMPRESÁRIO: É, certo, certo!

Outro vídeo feito pelo Gaeco mostra que além de Tiago Cachina, outras pessoas também fraudam hodômetros em Natal. O vídeo, feito na GC Velocímetros, mostra o adulterador João Otávio Macedo da Silva negociando a fraude.

Riscos a motoristas
Para o MPRN, essas adulterações impõem maiores riscos à saúde e segurança dos consumidores, além da própria vida, uma vez que panes que deveriam ser sanadas pela substituição de peças e manutenções preventivas e corretivas são apenas “maquiadas”.

Serviço
Como evitar fraudes de hodômetro de veículos

1 – Fique de olho no desgaste do veículo
Se o veículo estiver mais detonado aparentemente do que deveria em relação a quilometragem que ele marca, é um indicativo. Fique de olho nos pedais de aceleração, de freio e de embreagem, nos batentes de portas, nas borrachas e nos tapetes de chão.

2 – Consulte o Detran para ter mais informações
O site do Departamento de Trânsito fornece informações sobre o veículo. Por lá, dá para consultar as multas desse veículo, quantos donos ele já teve e outras informações.

3 – Observe o estado do painel
Danos específicos próximos ou no painel são sinais de possível adulteração. Fique de olho em parafusos soltos ou em falta nessa região e arranhões na área do hodômetro.

4 – Atente-se aos registros de manutenção
A cada 10 ou 5 mil quilômetros percorridos, algumas peças precisam ser substituídas. Se o veículo apresentado estiver com a quilometragem muito baixa, confira essas peças para ver se elas estão novas ou intactas. Entre elas, verifique a bateria, as pastilhas de freio e as mangueiras.

5 – Faça um test drive no veículo
Ative o velocímetro do seu GPS e comparar com o do carro. Discrepâncias em excesso entre as duas velocidades podem indicar modificações no painel, principalmente no hodômetro.

6 – Inspecione o veículo junto com o seu mecânico
Se você tiver um mecânico de confiança, esse profissional, em quem você pode confiar, vai te ajudar a olhar o veículo usado ou seminovo que você deseja comprar. Ele buscará sinais de adulteração e pode até mesmo usar um scanner profissional para encontrar inconsistências entre o hodômetro e os dados armazenados pelo veículo.

7 – Observe a quilometragem do manual
O veículo a ser comprado deve ter passado por todas as revisões juntamente à sua fabricante, pois assim você tem a garantia de comprar um automóvel em bom estado. Peça para ver o manual e confira as revisões, pois lá as quilometragens estão anotadas.

Fonte: Tribuna do Norte


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