ZIKA: mães e crianças sobrevivem como podem em meio ao abandono do poder público

“Não sei se há alguém feliz nesta tragédia humanitária”, diz mãe

O medo é agora realidade: as mulheres do zika foram esquecidas. As eleições acabaram e, nos interiores do Brasil, não há mais candidato a vereador levando e trazendo as mulheres e crianças para os exames.

Completou-se um ano do anúncio da emergência global pela Organização Mundial de Saúde (OMS), e não houve nenhum pronunciamento do governo brasileiro.

As promessas de benefícios especiais, centros de referência, cuidados precoces foram quase todas engavetadas pela crise econômica. Os bebês estão amadurecendo, e as mães cada vez mais sozinhas. Se antes carregavam os miudinhos no colo, agora sentem o peso da criança sem andar.

O governo federal prometeu que toda criança seria feliz. Felicidade é promessa gigante para política pública; exige mais do que primeira dama de azul.

Queria muito que Marcela Temer visitasse o Sertão de Alagoas e conhecesse as mulheres dos povoados afetados: saem de casa de madrugada, andam de mototáxi ou bicicleta, com a criança espremida entre o motorista e o próprio corpo; tomam um carro da prefeitura na estrada, e não há isso de cadeirinha como manda a lei. A criança viaja no colo.

Uma segunda geração de mulheres teve zika na gravidez, e seus filhos nasceram afetados pela síndrome neurológica. As mulheres da primeira geração discutem as aparições da síndrome a cada dia, “meu filho passou a ter hidrocefalia depois da microcefalia”, “o meu está internado”, “o meu tem dificuldades para beber líquido”. Chegam as duas cansadas, mas a criança irritada. Passam o dia sem comida e no calor, voltam à noite para casa. Algumas sem qualquer atendimento, pois o exagero da viagem desencadeia convulsões na criança e não há como acalmá-la.

Talvez, haja gente aliviada pelo silêncio. Se não houve pressão pública pelo anúncio do primeiro ano da epidemia global, é porque o problema não mais existe: zika acabou no Brasil, dizem alguns.

Vamos cuidar da nomeação do ministro da suprema corte que acredita em tática bélica como solução para justiça, do cabelo raspado do milionário preso, ou do Carnaval que se aproxima.

Enquanto isso, as mulheres sobrevivem como podem a uma das maiores tragédias do Estado brasileiro, a epidemia do zika.

 

 

Carta Capital

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