Brasil registra 90 mil acidentes com escorpiões e número deve aumentar; em 2018, foram os animais peçonhentos que mais mataram

O Brasil teve 99 mortes e mais de 90 mil acidentes com escorpiões em 2018, segundo o Ministério da Saúde.

Mais de 40 mil deles ocorreram no Sudeste. E esse número deve aumentar, de acordo com o biólogo Claudio Maurício Vieira, do Instituto Vital Brazil, órgão vinculado à Secretaria Estadual do Rio de Janeiro referência na área de soros antipeçonhentos.

“Os acidentes com escorpião estão em franco crescimento, principalmente no interior de São Paulo, onde ocorre a maioria dos acidentes graves”, afirma.

O crescimento do número de acidentes envolvendo escorpiões no país colocou o Ministério da Saúde e o Instituto Butantan em alerta. Os órgãos estão desenvolvendo um projeto conjuntamente para instruir a população a como lidar com o problema.

O número de acidentes diminuiu em relação à 2017, quando houve registro de 124 mil casos, mas o de mortes subiu, de 90 para 99. Em 2018, os escorpiões foram os animais peçonhentos que mais mataram, ultrapassando serpentes (74), aranhas (24), lagartos (7) e abelhas (47). Já em 2017, as serpentes provocaram mais óbitos – 101 contra 74.

Devastação, e não o calor, aumenta a proliferação

O biólogo explica que a alta incidência de ataques está relacionada à devastação da Mata Atlântica e não ao aumento da temperatura. “Está ligado ao modelo de ocupação que o país sofreu em áreas dominadas pela Mata Atlântica. Entre as espécies perigosas que temos no Brasil, há duas que são endêmicas da faixa Oeste brasileira que se favoreceram dessa remoção e chegaram às áreas urbanas”, explica.

“O escorpião era um animal de campo aberto do interior de Minas Gerais. Ele se dispersou pelo país seguindo a trilha do desmatamento de forma ativa e passiva. Como está próximo ao homem, toda vez que o homem se movimenta, ele se movimenta junto”, completa.

Vieira faz uma analogia ao Aedes aegypti, pois assim como o mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya, o escorpião tem facilidade de adaptação ao ambiente modificado pelo homem. “Esses escorpiões não são da Mata Atlântica, são de ambiente modificado. As galerias de esgoto são seu maior ponto de proliferação. Daí a importância do saneamento básico”.

Ele ressalta que os acidentes com escorpiões tendem a se intensificar no verão, mas que não se compara ao que ocorre com os acidentes com cobras. “Os acidentes ofídicos acontecem majoritariamente no verão. Já os acidentes com escorpiões, especialmente no Sudeste e no Nordeste, ocorrem o ano inteiro”, afirma. Depois do Sudeste, o Nordeste é a região com o maior número de casos, 39 mil, de acordo com o Ministério da Saúde.

Espécie do Sudeste é a mais perigosa

A espécie mais incidente no Nordeste é a Tityus stigmurus e, no Sudeste, a Tityus serrulatus, – também chamada de escorpião-amarelo. “Esta é muito mais perigosa. Concentra-se mais no Sudeste, mas também está invadindo o Nordeste”, afirma.

Vieira explica que todo escorpião é venenoso, o que difere é a toxidade do veneno. Atualmente há 150 espécies conhecidas no Brasil. A maioria das picadas causa apenas manifestações dolorosas, como inchaço e vermelhidão e, no máximo, febre.

“Já os escorpiões chamados de perigosos podem levar uma criança de até 14 anos a um quadro moderado ou grave, ocasionando até a morte. Trata-se de um veneno complexo que se instala em velocidade muito grande, o que faz do envenenamento por escorpião diferente do envenenamento de outros animais peçonhentos”, explica.

De acordo com o biólogo, estudos mostram que crianças que são atendidas após 3 horas da picada têm maior probabilidade de morte. Isso significa que é preciso tomar o soro antiescorpiônico, nos casos de quadros moderados e graves, antes desse período.

“Como o envenenamento dá muita dor, serve de alerta para as pessoas acelerarem a procura por atendimento médico. É importante que o acidente seja diagnosticado e classificado se é leve, moderado ou grave, da forma correta”, afirma.

Prevenção vai além da galinha d´angola

A prevenção inclui uma série de intervenções ambientais como diminuir a oferta de abrigo ao animal, como pedras, madeiras e folhas, impedir o acesso às casas por meio do controle de frestas, ralos e janelas, e valorização de predadores naturais, como aves, lagartos e sapos, além do controle do alimento do escorpião, que são os insetos domésticos, principalmente a barata.

“Tem se falado em galinha d´angola como predadora do escorpião, mas todas as galinhas comem escorpião. Mas trata-se apenas de mais uma medida, não de uma solução definitiva. Muitas pessoas adquirem a galinha, mas acabam se desfazendo do animal por conta do barulho e da sujeira. Além disso, o escorpião é um problema urbano e, na cidade, não é permitida a criação de galinha”, diz.

Os escorpiões não são exclusivos de áreas pobres. “Há infestações em comunidades rurais bem pobres e também em condomínios de alto luxo. Para cada situação, é preciso fazer um diagnóstico de área e avaliar quais os fatores de risco para propor soluções”, explica.

Segundo ele, a informação de que inseticidas não funcionam contra escorpiões é um mito. “No laboratório, sabe-se que o inseticida é uma ferramenta muito útil. Mas falta realizar teste em campo. O Brasil ainda não tem um ensaio que permita saber quais são os aspectos positivos e negativos da aplicação desses produtos”, conclui.

R7

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