As oportunidades ambientais perdidas pelas Olimpíadas do Rio

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Quando o Brasil foi escolhido para ser sede da Olimpíada, em 2009, o país vivia um momento bem distinto do atual, às vésperas do início dos Jogos. Na época, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmava que, “os Jogos Olímpicos no Rio serão inesquecíveis, pois estarão cheios da magia e da paixão do povo brasileiro”. Não é necessário ressaltar que tal cenário mudou e que a sociedade brasileira não está assim tão empolgada com a realização dos Jogos.

De acordo com o Datafolha, em pesquisa realizada em julho de 2016, 50% dos brasileiros são contra a realização do evento e 9% indiferentes. Seria mais estranho se fosse o contrário, pois, além da insatisfação generalizada em relação à situação política e econômica, cada vez mais se entende que esses eventos são executados com desperdício de dinheiro e com resultados além dos prometidos.

É quase que uma metáfora de todo o país. Na visão de boa parcela da população, pagamos muito e recebemos muito pouco em troca. Mesmo com os argumentos de que o evento é um legado e que o “espírito olímpico” será importante para o país, a visão cética e pragmática se ressalta – e com motivos. É quase impossível assistir passivo ao show de promessas não cumpridas que vão desde obras de infraestrutura e medidas de despoluição até a compensação das emissões de carbono do evento – estimadas em 3,6 milhões de toneladas de carbono equivalente – por meio da recomposição de vegetação nativa.

Em 2012, o governo do estado do Rio de Janeiro prometeu plantar 34 milhões de árvores (aproximadamente 20 mil hectares) para compensar as emissões do evento. De lá para cá, diversos outros números apareceram na mídia, mas todos aparentemente sem fundamento técnico. Hoje, pouco sabemos sobre a quantidade de hectares que efetivamente receberam ou receberão recomposições florestais, bem como se esses projetos são de fato adicionais, ou seja, não aconteceriam sem o investimento direto de recursos provindos dos Jogos Olímpicos.

Recentemente, na Folha de S.Paulo foi possível ler a seguinte informação: “A Secretaria do Ambiente disse que restaurou 3.275 hectares de Mata Atlântica, o que representa 68,7% das emissões a serem compensadas”. No entanto, não há transparência em relação ao financiamento nem à localização desses plantios. O que sabemos é que, provavelmente, como também já foi anunciado, o governo do Rio de Janeiro vai recorrer a outras formas de neutralização para fazer cumprir suas próprias metas.

Muitos podem dizer que as metas foram autoestabelecidas e que o mais importante seria o sucesso na realização dos Jogos, e não no cumprimento de promessas ambientais vagas e pouco fundamentadas. Mas é importante frisarmos que isso é mais uma prova do pouco caso que, de maneira generalizada, o Brasil faz de suas responsabilidades.

Um país que se compromete com o plantio de 12 milhões de hectares (aproximadamente 18 bilhões de árvores) até 2030 não consegue cumprir com uma meta muito menos ousada num espaço de tempo praticamente igual ao que teremos para atingir a que foi prometida na COP 21, realizada em dezembro de 2015, em Paris. Ou seja, perdemos uma chance de mostrar aos 5 bilhões de espectadores e aos 11 mil atletas que levamos a sério os compromissos estabelecidos e que reconhecemos a importância de deixar um legado positivo, que é uma das grandes bandeiras defendidas pelo Comitê Olímpico Internacional. Também não foi por falta de recurso, pois, de acordo com matéria da mesma Folha de S.Paulo em 21 de julho deste ano, o Comitê Rio 2016 conseguiu atingir a meta de patrocínio e o orçamento total do evento chegou a R$ 39 bilhões.

Fica claro que mais esse insucesso é apenas uma questão de prioridade ou de sua ausência.


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