Erros de medição inflam número de casos suspeitos de microcefalia em PE

Há um mês, quando Maria Vitória nasceu, a costureira Maria Letícia de Araújo, 21, recebeu a notícia de que a filha poderia ter microcefalia –má formação do crânio que pode comprometer o desenvolvimento infantil.

Isso porque, no hospital, a medição apontou que a garotinha tinha apenas 32 centímetros de perímetro cefálico. “Tive uma gravidez tranquila. No pré-natal não apareceu nada de errado, de repente foi esse susto”, afirmou.

Mãe e filha tiveram que sair de Toritama, no agreste pernambucano, para o Recife. Depois de percorrer mais de 170 quilômetros, veio o alívio. “Mediram a cabecinha dela e viram que está com 36 centímetros. Vamos fazer o exame de sangue e a tomografia, mas o pior já passou”, disse Maria Letícia.

Foto: Kleber Nunes/Folhapress

Foto: Kleber Nunes/Folhapress

De acordo com Ângela Rocha, chefe do Setor de Infectologia Pediátrica do Hospital Universitário Oswaldo Cruz, nos três primeiros meses a cabeça de um bebê cresce em média 2 cm por mês. “Um crescimento acima disso deixa claro que houve um erro na medição”, afirmou a médica.

Vários bebês com suspeita de microcefalia oriundos do interior de Pernambuco têm a anomalia descartada no primeiro exame clínico.

Nesta segunda e terça-feira (28 e 29), das dez crianças de cidades do agreste e do sertão pernambucano que deram entrada no Oswaldo Cruz, no Recife, sete apresentaram evolução normal do perímetro cefálico sem nenhuma aparente alteração neurológica.

No entanto, por recomendação do Protocolo Clínico Epidemiológico para casos de microcefalia, todos foram encaminhados para fazer coleta de sangue e tomografia.

O índice expressivo de descartes, por dia, de casos suspeitos pode estar associado ao erro de medição da cabeça no momento em que o bebê nasce. Pelos parâmetros estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), são suspeitos de microcefalia os bebês que nascem entre 36 e 40 semanas com perímetro cefálico menor ou igual a 32 centímetros.

A médica Ângela Rocha minimiza os erros de medição. “É melhor esse tipo de engano, mesmo que estresse as mães, do que haver subnotificação”, diz.

O governo de Pernambuco prometeu descentralizar o atendimento para mães e os bebês com microcefalia, estruturando hospitais em Serra Talhada e Petrolina, ambos no sertão, e em Caruaru, no agreste. Porém, o que se percebe, ainda, é uma concentração de famílias do interior nas unidades da capital.

Thamires da Silva, 22, natural da cidade de Itapetim, poderia levar a pequena Valentina de apenas 25 dias para a vizinha Serra Talhada. Entretanto, mãe e filha tiveram que enfrentar cerca de 500 km de estrada até o Recife.

“Disseram que ela nasceu com 31 cm (de perímetro cefálico) e me encaminharam para cá porque em Serra Talhada não tinha os médicos certos para atender a gente”, afirmou.

Jéssica dos Santos, 22, saiu de Caruaru, cidade que deveria ser atendimento de referência para o agreste, com Iago Henrique dos Santos, de um mês de vida, para o Recife. “Não tive nem gripe na gravidez, quando meu filho nasceu disseram que tinha 32,5 cm. Uma semana depois, quando fui fazer o teste do pezinho pedi para medirem disseram que estava com 35 cm. A dúvida deixou todo mundo nervoso”, disse a estudante.

Os exames clínicos no Recife descartaram a hipótese de microcefalia nos bebês de Thamires e Jéssica. Assim como as duas, muitas mães se deslocam para o Recife em vans e ônibus oferecidos gratuitamente pelas prefeituras das cidades de origem. Algumas, ainda precisam, ser acolhidas em casas de apoio, também mantidas pelos governos municipais.

Ângela Rocha estima que entre 70% e 80% dos atendimentos no Oswaldo Cruz são de pacientes vindos do interior do Estado. Para evitar um número excessivo de viagens, a médica afirma que a recomendação é realizar o máximo de exames no menor tempo possível.

“Enquanto fazemos a análise clínica já encaminhamos para a coleta de sangue. Mas aqui no Oswaldo Cruz a coleta só acontece nas terças e quintas-feiras, porque o material tem que ser enviado aos laboratórios com urgência não pode ficar armazenado”, disse a médica.

Ainda segundo Ângela, o atraso maior é na marcação das tomografias, que “não atendem só os pacientes suspeitos de microcefalia”. “Esse número de pessoas do interior deve cair já no começo do mês que vem com os outros hospitais prontos para atender”, afirmou.

BALANÇO

No último balanço do ano, divulgado nesta terça-feira (29), pela Secretaria de Saúde de Pernambuco, o Estado contabilizou até domingo (27), 1.153 casos suspeitos de microcefalia. Desse total, 426 (36,9%) já foram confirmados dentro dos parâmetros da OMS para a anomalia.

Até este mês, Pernambuco registrou três natimortos com microcefalia. As causas dos óbitos ainda estão sendo investigadas.

 

 

 

Folha Press

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