Vale pode lucrar com interrupção de barragens como a de Brumadinho

A medida anunciada pela Vale para reduzir o risco de rompimentos de barragens prevê extração de minérios e representa uma atividade que dá ao rejeito de mineração uma sobrevida comercial —podendo, assim, trazer lucro à Vale.

O presidente da mineradora, Fabio Schvartsman, anunciou que a companhia vai descomissionar, ou seja, descaracterizar, todas suas barragens construídas pelo método de alteamento a montante, como as que se romperam em Brumadinho e em Mariana.

De acordo com Schvartsman, a Vale tem 19 barragens dessas no país, nove já em descomissionamento. As outras dez serão interrompidas em até três anos.

Há dois tipos de descomissionamento de barragens de mineração: pode-se cobrir o terreno e reflorestá-lo ou pode-se aproveitar e refinar os minérios que ainda restam nos rejeitos da barragem.

Essa última técnica tem despertado interesse comercial crescente, sobretudo na região do quadrilátero ferrífero, no centro-sul de Minas Gerais, onde fica Brumadinho.

Desde 2016, os minérios extraídos nas barragens da região, chamados de pellet feed fines, têm sido usados pela Vale para criar um produto chamado BRBF (Brazilian Blend Fines), uma mistura desses minérios com o tipo extraído no Sistema Norte de Carajás, mais nobre. O produto foi anunciado ao mercado internacional pela Vale em outubro.

Especialistas dizem que o refino de minério em barragens torna-se rentável quando sobe o preço do minério de ferro, como tem ocorrido desde o ano passado.

Procurada, a Vale não informou quantas barragens irão passar por esse processo. Na terça, Schvartsman afirmou que a técnica seria usada, mas não especificou em que barragem. “[Será analisado] caso a caso, [será analisada] qual é a facilidade de trabalhar em cada uma delas, isso é uma decisão técnica” disse.

Apesar de possuir teores de ferro menores do que os minérios extraídos das minas, o refino captado nas barragens apresenta concentrações significativas do material.

Segundo uma amostra captada na barragem 1 do Córrego do Feijão (a que se rompeu) e que consta em estudo da empresa de 2014, os rejeitos contidos ali apresentavam teores médios de 48,08% de ferro. Com o método de separação magnética, chegou-se a um concentrado com até 67,54% de teor de ferro.

A extração nas barragens estava presente nas projeções da Vale há anos. Já havia um projeto para isso na barragem que se rompeu em Brumadinho, que estava previsto na ampliação das operações do complexo Paraopeba, o mesmo onde está a mina do Córrego do Feijão.

O reaproveitamento dos rejeitos estava no estudo de impacto ambiental da ampliação do complexo, feito em 2014. “Dependendo das condições de mercado, este material poderá ser comercializado com terceiros, tal como empilhado, ou utilizado na mista dos produtos produzidos em Feijão ou ainda ser reprocessado pela Vale”, diz o estudo, feito há cinco anos.

A empresa que elaborou o projeto de refino de minérios na barragem do Córrego do Feijão foi a VogBR, a mesma que atestou a estabilidade da barragem do Fundão, em Mariana (que se rompeu meses depois do laudo).

O projeto da VogBR envolve três coisas: o reaproveitamento dos rejeitos das barragens 1 (a que ruiu) e 6 (que está sendo monitorada e chegou a disparar uma sirene alertando a evacuação), a construção de um rejeitoduto e o uso das cavas (buracos) que estavam desativadas da mina do Córrego do Feijão para depositar rejeitos, rochas e terra.

“A lavra (dragagem) do rejeito da barragem 1 e 6 tem por finalidade a recuperação do rejeito que atualmente, de acordo com o mercado internacional, tem um valor econômico para a Vale e consequentemente irá reduzir a altura da estrutura atual de barramento executada durante sua operação, podendo-se chegar à desativação total da mesma”, diz o relatório.

Procurada, a VogBR confirmou a elaboração do projeto e disse que não sabia se ele chegou a ser implantado. A Vale não comentou.

A Vale teve a liberação de licenciamento ambiental para essas atividades (que incluíam aumento das operações de uma mina do complexo Paraopeba) na Secretaria de Meio Ambiente de Minas Gerais em dezembro do ano passado.

De acordo com a Vale, as atividades iriam começar após o fim do período de chuvas, mas moradores do entorno afirmaram terem visto movimento de caminhões na barragem do Córrego do Feijão antes da liberação da licença.

Folhapress

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